Este Projeto propõe um estudo da crise (MARX, 2005; MAULPOIX, 2009: SISCAR, 2010) do paradigma musical (MARX, 2002) no âmbito da poesia moderna francófona, compreendendo-a menos como um momento de transição entre o Romantismo da primeira metade do século XIX e o advento das vanguardas do século XX, que como uma característica inerente à produção poética francesa da segunda metade do século XIX. Proponho o desdobramento dessa crise em três fases. A primeira delas consiste no momento de reconhecimento do problema. A ela pertencem Nerval, cuja poética da quimera (JACKSON, 2011) é inseparável do reconhecimento da ruptura que separou definivamente o poeta moderno de seus modelos míticos, e Baudelaire, poeta que se representa como um falso acorde e que vivenciou em seus textos poéticos e teóricos a ambivalência poético-musical (JACKSON, 2005) que caracteriza a condição do poeta moderno. Motivada pelo prestígio crescente das teorias de Wagner (1888) e, geralmente, por interpretações literais de sua filosofia da música como modelo para todas as artes, o movimento simbolista se apresenta como a segunda fase. Entendo o Simbolismo como um esforço de restauração do poder mágico-musical da poesia sem contudo escapar ao reconhecimento da insuficiência da linguagem, que foi, aliás, uma das principais caracteríscas daquela experiência poética. O esgotamento da poética simbolista pracamente coincide com o início da trajetória poética de Mallarmé, nome central da terceira e última fase da história da crise do paradigma musical na poesia moderna. Opondo-se frontalmente à teoria wagneriana e à sua retomada pelos poetas simbolistas, Mallarmé, que não hesita em dizer que faz Música (Je fais de la Musique) (MALLARMÉ, 1995, p. 614) com m maiúsculo, promove uma espécie de anulação da dimensão sonora em proveito de uma visão radicalmente abstrata da relação com a arte dos sons.

Temas para orientação: Teoria geral da poesia; poesia e modernidade; poesia moderna; poesia contemporânea; poesia de língua francesa e língua portuguesa; hermenêutica (Paul Ricoeur); literatura e música; literatura e mito; literatura e filosofia.