O feminino mítico em Mulheres de cinzas, de Mia Couto
Publicado: 28/07/2022 - 17:34
Última modificação: 28/07/2022 - 18:02
RESUMO
Em “Mulheres de cinzas” de Mia Couto, os espaços femininos se fazem a partir de eventos que fluem das crenças, dos mitos e dos costumes dos nativos moçambicanos, uma herança dos ancestrais, passada oralmente, de geração em geração. É uma forma de viver a vida em um estado religioso, cultuando os espíritos dos parentes que, na sua visão, não morreram, seus corpos foram semeados na terra, mas continuam vivos a fazer girar o mundo. E se manifestam na natureza. As vivências das mulheres se apresentam como novas variações de arquétipos, em função de mitos há muito consagrados na trajetória da humanidade, que se vão transformando conforme a localidade e a cultura do povo. Ressalta-se, nesse romance, principalmente o arquétipo da Grande-mãe, que se personifica na Terra, a Terra-Mãe, uma personagem de importância fundamental, pois faz uma reverência à África e à natureza, como mãe forte que acolhe seus filhos. O arquétipo também se personifica na mãe humana, que é sustentação do núcleo sociofamiliar, um sinônimo, tal como a terra, de fertilidade e de nutrição. Assim, o autor cria um espaço mágico, composto pelas ações e pelas atitudes das mulheres em consonância com a natureza, para expressar a sua admiração, carinho, apreço e gratidão para com as mulheres, principalmente no seu papel de mãe. Entretanto, as atitudes das personagens femininas, que as fazem transcender como modelo exemplar humano, não se restringe à afeição maternal, mas também à resiliência e à resistência, nos enfrentamentos cotidianos, perante os conflitos externos e internos, observados ao longo de todo o romance. Muitos deles surgidos em consequência do Colonialismo, mas também do androcentrismo dominante naquele mundo patriarcal, instigando a violência e a marginalização social e individual das mulheres. Sobre este pano de fundo, Couto representa as mulheres, constituindo-as com traços heroicos, com características atribuídas geralmente aos homens. A formação da narrativa em movimentos circulares, com o retorno final ao início dos tempos acompanha, no conteúdo e na forma, o instituto dos arquétipos e mitos como forma de conferir a sacralidade aos acontecimentos, desde os tempos arcaicos até os dias atuais. O trabalho é fundamentado em estudiosos dos mitos sagrados e arquétipos como Eliade, Campbell, Jung e Bolen, também estudiosos das ciências sociais como Bhabha e Khapoya.
Palavras-chave: Feminino. Arquétipos. Grande Mãe. Mitos. Sagrado. Literatura Africana.
A DEFESA SERÁ REALIZADA NO DIA 03/08, `ÀS 14H, NO FORMATO REMOTO, NO ENDEREÇO A SER DIVULGADO.