Efeitos da rasura: memória, história e identidade no romance brasileiro contemporâneo
Publicado: 05/02/2024 - 14:55
Última modificação: 05/02/2024 - 14:55
RESUMO
Esta tese tem como objetivo propor um operativo à leitura de romances contemporâneos publicados no século XXI. Propõe-se estabelecer como eixo temático e estético comum a narrativas de variado jaez efeitos advindos do que se nomeia nesta pesquisa como ‘rasura’. A ideia central reside em determinado apego ao passado histórico observado por parte da prosa contemporânea brasileira em razão da indefinição experimentada no presente. Sob esse aspecto, a ficção literária parte de questões que são inerentes ao presente, mas que possuem um lastro tido como insuficiente no passadono campo da representação. Os romancistas promovem o reencontro de questões presentes abordando o passado como forma de memória, de maneira que suas narrativas, quando postas em cotejo com a história oficial, são capazes de revelar nuances e formas de identidade escamoteadas ou omitidas de outras formas possíveis de existir na linguagem. Dessa maneira, a pesquisa elencou três romances, a saber, Inferno Provisório, de Luiz Ruffato, O filho eterno, de Cristóvão Tezza e Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves. Partindo da história da formação do protelariado urbano brasileiro, Luiz Ruffato, em edição definitiva e revisada, narra as agruras dos migrantes, em sua maioria descendentes de italianos da região de Cataguases/MG, rumo a uma promessa desenvolvimentista de prosperidade que seria encontrada nas capitais dos Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo. As nuances subjetivas e a trajetória que liga a pobreza material a certo fracasso subjetivo conclui a desmistificação dos discursos positivos sobre a industrialização e modernização do Brasil. Em O filho eterno há a narração em terceira pessoa sobre um pai que tenta em devaneios e reminiscências compreender e aceitar o filho com síndrome de Down, ao passo que o estatuto de verdade conferido à palavra é posto em xeque a cada momento que o pai tenta fazer com que Felipe faça parte da sua vida. A impermanência e a instabilidade do romance, por assim dizer, inicia-se quando o leitor toma conhecimento de que a narração é totalmente baseada na vida do autor, mas com o devido alerta de que a narrativa compõe um romance, e não uma autobiografia. Em Um defeito de cor, Ana Maria Gonçalves narra a épica história de Kehinde, nascida no então reino do Daomé, hoje Benim, na África, trazida à força ao Brasil para ser escravizada. O romance é narrado em primeira pessoa, o que supõe muitas implicações em relação à representação dos escravizados pelas artes e pela historiografia. Ao revelar ao presente o passado de suas questões, tais romances se postam como uma ‘rasura’ à história, visto que auxiliam a promover, por meio de sua circulação, a transformação do imaginário social sobre determinados períodos da história e sobre a representação de sujeitos que até então eram delineados de maneira generalizadora e sem nenhuma preocupação com a subjetividade que envolve a compleição de toda identidade. Nesse sentido, compulsou-se uma bibliografia teórica de autores como Paul Ricoeur (1994, 1995, 1997); Régine Robin (2016); Linda Hutcheon (1991); Roberto Gonzalez Echevarría (2000), Giorgio Agambem (2009), visando entender quais são os efeitos apontados pelo que se chama de ‘rasura’ neste trabalho em termos de análise literária.
PALAVRAS-CHAVE: Romance contemporâneo; Literatura brasileira; Memória; História; Identidade.
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