Caetanoel: educação sentimental no mundo das canções
Publicado: 13/02/2023 - 11:51
Última modificação: 13/02/2023 - 11:51
RESUMO
Esta pesquisa tem como objeto o estudo sobre diálogos intertextuais entre a obra cancional de Caetano Veloso e o cancioneiro de Noel Rosa, buscando investigar a singularidade deste caso, instaurado na educação sentimental de Veloso, e cujos desdobramentos oscilam entre a celebração e o conflito. Em torno da relação entre os dois cancionistas, são discutidos temas mais amplos, como o processo de formatação da canção no Brasil associada às gravações em mídia, o desenvolvimento de uma lírica própria do campo cancional e a presença das canções gravadas nas vidas individuais e coletivas das diferentes gerações, desde a década de 1930, passando a compor suas identidades e memórias afetivas. O conceito de “educação sentimental” é tomado a partir de José Miguel Wisnik (2004), compreendendo a canção difundida em mídias como um “saber poético-musical” que, no caso de Caetano Veloso, abarca a presença de Noel Rosa no mundo auditivo de sua infância em Santo Amaro, no rádio e nos discos, na voz materna, nas reflexões do pai, no canto da irmã Maria Bethânia e na própria voz. São propostas análises comparadas entre canções dos dois autores, partindo de diálogos estabelecidos por Caetano Veloso com Noel Rosa, por meio de jogos intertextuais, em derivações, paródias, colagens, apropriações e respostas, como no caso da emblemática canção-manifesto “Tropicália” (1968), criada a partir do samba noelino “São coisas nossas” (1932). A ligação entre Veloso e Rosa, mesmo quando em confronto, aponta para um modo de ser comum a ambos, os quais, cada um em seu tempo, construíram suas trajetórias de maneira desenquadrada dos padrões sociais e estéticos estabelecidos. A partir das análises cancionais, discute-se a ideia de que, ao dialogar repetidas vezes com Noel Rosa, Caetano Veloso aponta para uma visão crítica da tradição que o formou, por meio de movimentos construídos de dentro da própria série cancional, atualizando-a, ampliando-a, confrontando-a, transgredindo-a, tratando-a como força presente na perspectiva “síncrono-diacrônica” de uma “tradição transtemporal”, conforme a acepção de Campos (2006). A metodologia comparativa utilizada integra as construções poéticas, musicais, entoativas, performativas e fonográficas, abarcando a interação entre letra, melodia, performance vocal e corporal, harmonia e arranjos instrumentais, construções sonoras em estúdio, capas de discos, situação das faixas no contexto dos álbuns, intertextos com a série cancional e com outras linguagens. O arcabouço teórico se vale, dentre outros autores, da própria atuação de Caetano Veloso como artista-crítico, dos conceitos semióticos de Tatit (1996), de trabalhos sobre a canção e o samba em Wisnik (2004), Campos (1974), Máximo e Didier (1990) e Sandroni (2012), de estudos sobre a vocalidade em Zumthor (2010) e Cavarero (2011), a intermidialidade e a intertextualidade em Compagnon (1996) e Hutcheon (1995), a tradição e a transgressão em Campos (2006) e Foucault (2009).
Palavras-chave: Canção. Caetano Veloso. Noel Rosa. Intertextualidade. Tradição.
A defesa será realizada por videoconferência, no endereço https://meet.google.com/kry-kxih-oej