Identidade e sagrado no sertão nordestino nas obras Auto da Compadecida e Farsa da Boa Preguiça de Ariano Suassuna
Publicado: 02/09/2022 - 17:30
Última modificação: 02/09/2022 - 17:31
RESUMO
Esta dissertação analisa a identidade e o Sagrado no sertão nordestino, tendo como referência as obras Auto da Compadecida e Farsa da boa preguiça, de Ariano Suassuna. Para a questão da identidade são considerados múltiplos aspectos, embora o elemento racial, para a cultura brasileira, esteja no cerne do problema identitário. A identidade mostra uma concepção de nossa característica, de nossa essência... é uma construção realizada ao longo da vida. Em relação às identidades do Cristo, que Suassuna apresenta em suas peças Auto da Compadecida e Farsa da boa preguiça, essas são multifacetadas e controversas. Os personagens que representam esse Cristo, nessas peças, aparecem com diversas identidades, sendo elas: Manuel negro retinto, Leão de Judá, o Filho de Davi, Jesus, Senhor e Deus, no Auto; e Camelô de Deus, Manuel Carpinteiro, ser Celestial, na Farsa. Portanto, as peças evidenciam esse lado humano e divino de Jesus. Assim como na obra de Suassuna, o texto bíblico também mostra um Cristo com múltiplas identidades. Quanto ao Sagrado, na teoria de Mircea Eliade, esse se manifesta, em ambas as peças, como uma hierofania, ou seja, a manifestação do Sagrado no mundo concreto. Já Rudolf Otto nomina o Sagrado como numinoso e este, para o teórico, consiste na manifestação do “totalmente outro” em um objeto ou num “ser” deste mundo, ao qual ele chama de profano. A noção de Sagrado na literatura de Suassuna é personificada pela figura de Manuel, que representa, na peça Auto da Compadecida, um Cristo que é negro e que vai julgar todos os personagens que cometeram transgressões na vida terrena. Durante o julgamento, Sagrado e profano se imbricam, devido ao mundanismo que se capilarizou, como praga, da igreja na Terra. Também em a Farsa da boa preguiça haverá um julgamento, em que as almas transgressoras serão condenadas devido não haver, na Terra, ninguém que rezasse por elas, durante o período de sete horas, em que ficaram no purgatório. Já as almas não transgressoras, tendo quem rezasse por elas, foram salvas por Miguel Arcanjo. O catolicismo sertanejo, de Suassuna, funciona como um elemento crítico ao catolicismo centralizado na hierarquia eclesiástica, em que, no Auto da Compadecida, o Bispo, muitas vezes, é simoníaco, usando os bens da igreja em benefício próprio. Ariano, para compor esse drama citado por último, se utilizou dos folhetos de cordel O enterro do cachorro, O Castigo da soberba e História do cavalo que defecava dinheiro. Já a Farsa da boa preguiça foi inspirada nos mamulengos, sabendo-se que o cordel, com seus folhetos, veio de Portugal para o Brasil ainda no período da colonização, e serviu como construção da identidade nordestina.
Palavras-chave: Ariano Suassuna. Identidade. Sagrado. Catolicismo. Literatura de cordel.
A defesa será realizada por videoconferência, no endereço: conferenciaweb.rnp.br/webconf/sergio-guilherme-cabral-bento