Negociando a narrativa da madrasta: novas perspectivas para a vilã dos contos de fadas
Publicado: 17/05/2021 - 21:00
Última modificação: 19/05/2021 - 20:32
RESUMO
Os contos de fadas se configuram como construções mágicas do mundo que permeiam os séculos. Na contemporaneidade, há um movimento intertextual de releitura dessas narrativas maravilhosas que retoma o passado sob o conceito de “re-visão”, proposto por Adrienne Rich (1985), apostando na necessidade de desconstruir, reorganizar e transformar os contos de fadas, tendo por base a tradição. Nesse sentido, o revisionismo contemporâneo, dialogando com a pósmodernidade, lança luz para perspectivas que estão fora do sistema homogeneizante, demonstrando que essas histórias não precisam ser como sempre foram e seus significados não necessitam ser únicos, imutáveis ou cristalizados. Como metáforas de uma época, por muito tempo, os contos de fadas estabeleceram os lugares para as personagens femininas. Com a institucionalização dos contos de fadas enquanto gênero literário, a madrasta passa a ocupar o polo feminino negativo, sendo o contraponto que valida o ideal materno de bondade e lutando, dentro de um novo casamento, contra a enteada. Madrasta e enteada são caracterizadas como personagens que constroem uma relação de poder, sendo influências mútuas para o desenrolar da narrativa. Mas por que a madrasta é vilipendiada e cabe a ela, na tradição, apenas o papel de antagonista? Esse questionamento inicial nos levou ao desenvolvimento dessa tese, que tenta negociar a narrativa da madrasta, a partir de releituras do tradicional conto de Branca de Neve. Refletindo a necessidade contemporânea de trazer justificativas em relação ao passado da madrasta a fim de justificar sua vilania, analisamos “The Snow Child”, de Angela Carter, “Snow Night”, de Barbara G. Walker, “The dead Queen”, de Robert Coover, Garotas de Neve e Vidro, de Melissa Bashardoust, A Mais Bela de Todas - A História da Rainha Má, de Serena Valentino; e o seriado ficcional Once upon a time, de Adam Horowitz e Edward Kitsis. Por meio dessas narrativas, defendemos a hipótese de que a busca da origem do mal da madrasta é uma ficção que não empobrece o enigma, que nasce e se consolida no fato de nunca dizer tudo, e elaboramos o conceito de “memória-origem”, associando-o à transformação da personagem madrasta de vilã para uma anti-heroína pós-moderna.
Palavras-chave: Contos de fadas. Revisionismo contemporâneo. Madrasta. Branca de Neve. Vilania. Origem do mal