Resumo

A proposta desenvolvida neste estudo parte da análise sobre alguns aspectos de uma ampla obra de teor autobiográfico constituída por diários, na qual o escritor José Saramago revela o seu universo interior por meio de abordagens distintas. Os diários de Saramago representam seis anos de registros da vida do autor e foram publicados como Cadernos de Lanzarote (volumes I, II e III) que compõem o período de sua vida de 1993 até 1995; Cadernos de Lanzarote II (volumes IV e V) correspondendo ao período de 1996 até 1997 e o Último Caderno de Lanzarote: o diário do ano do Nobel, correspondendo ao ano de 1998, sendo publicado postumamente em 2018. Nesse contexto, busca-se compreender algumas dinâmicas da produção dos textos autobiográficos pondo em questão a elaboração do diário, no qual se consagra uma prática textual subjetiva e privada, e a interação do leitor com o que se inscreve no momento presente dos registros e pelas memórias. Os Cadernos como obra de base literária, sem intenção meramente ficcional, revelam-se como espaço em que autor constrói sua representatividade atuante e crítica sobre diversificados assuntos de âmbitos particularizantes e universais. A tese apresenta como base os recortes fundamentados nos relatos dos Cadernos... e retoma teóricos e publicações que abordam aspectos pertinentes ao universo da escrita de si, da memória e da construção diarística retomando alguns teóricos como Philippe Lejeune, Leonor Arfuch, Maurice Blanchot, Jeanne-Marie Gagnebin. Dessa forma, a escrita de diários, com finalidade de publicação, constitui-se por meio da composição autobiográfica conduzida pelo ato cronológico do presente e sustentada pela memória, gerando situações discursivas e temáticas desveladas pela composição intelectual e crítica do escritor e pelos anseios de um homem em seus hábitos convencionais, ou seja, um processo para estudo e compreensão do autor em sua representação autobiográfica e, consequentemente, uma forma de estudo contextual dos diários como obra literária.

Palavras-chave: Cadernos de Lanzarote. José Saramago. Escrita de si e autorrepresentatividade. Diário literário.