A peça radiofônica Processos contra as bruxas, de Walter Benjamin: a Inquisição como aviso de incêndio
Publicado: 19/03/2025 - 08:38
Última modificação: 19/03/2025 - 08:38
RESUMO
Esta dissertação tem por objetivo analisar a peça radiofônica intitulada Processos contra as Bruxas, presente no livro A hora das crianças: narrativas radiofônicas de Walter Benjamin, que reúne uma coletânea de 29 textos produzidos para programas de rádio em Berlim e Frankfurt, com duração média de vinte minutos, entre os anos de 1927 e 1932, transitando, assim, entre os campos literários, históricos, políticos e culturais. Em uma primeira camada de sentido, a peça radiofônica supracitada problematiza como a concepção de bruxa, essa figura milenar do imaginário coletivo, geralmente descrita como malvada, com verrugas e que come criancinhas, vide a personagem de João e Maria, transformou-se, no final da Idade Média, em algo temido no cotidiano social. Dito de outra forma, a personagem bruxa, a partir das ressonâncias da ascensão do sistema capitalista, bem como do discurso religioso, transitou dos contos de fadas para o terreno do direito, das relações de poder. Todavia, defendemos que essa denúncia peremptória à perseguição às bruxas, bem como a narrativa de algumas catástrofes, efetivamente, não apenas está jogando luz nos tempos idos, mas, sobretudo, escrutinando analogamente o presente deveras atual do nazifascismo. Em vista disso, esse estudo traz como armadura teórica, para além das próprias reflexões de Benjamin (1995, 2000, 2009, 2012, 2013, 2015, 2016 e 2020), os seguintes autores e suas respectivas obras: Anita Novinsky em “A Inquisição” (2007); Bernd Witte em “Walter Benjamin: uma biografia” (2017); Bethencourt Francisco em História das Inquisições (2000); Bruno Bettelheim em “A psicanálise dos contos de fadas” (2007); Ligia Cadermartoti em “O que é Literatura Infantil” (2010); Henrich Kramer e James Sprenger em “O Martelo das Feiticeiras” (2023); Jean Delumeau em “História do Medo no Ocidente” (2009); Jeanne Marie Gagnebin em “História e narração em Walter Benjamin (2009); Márcio Seligmann-Silva em “A atualidade de Walter Benjamin e de Theodor W. Adorno (2009); Peter Hunt em “Crítica, Teoria e Literatura Infantil” (2010); Philippe Ariès em “História social da criança e da família” (1986); Sigmund Freud em “O poeta e o fantasiar (2015); Silvia Federici em “Mulheres e caça às bruxas” (2019), etc. Por fim, almeja-se que os resultados contribuam para uma compreensão mais densa teórica e criticamente das complexas relações entre a instituição literária e a guerra, das íntimas ligações entre a Inquisição (XIII ao XVIII) e o Holocausto (XX), visto aqui como uma espécie de atualização histórica, bem como, enriquecer o campo dos potentes estudos benjaminianos. Palavras-chave: Holocausto. Inquisição. Literatura Infantil. Peça Radiofônica. Walter Benjamin