Poética da solidão para além de Cem anos em Gabriel Garcia Márquez
Publicado: 02/03/2023 - 11:53
Última modificação: 02/03/2023 - 11:53
Resumo:
A presente tese tem como objetivo vislumbrar uma poética da solidão a partir da análise de três romances do escritor colombiano Gabriel García Márquez, a saber, Cem anos de solidão (1967), O general em seu labirinto (1989) e O outono de um patriarca (1975), considerando o movimento centrípeto das obras, a disposição dos seus respectivos enredos e a formação discursiva por trás dessa disposição. Esse intuito nasce da hipótese elaborada por Mario Vargas Llosa (2007), em seu ensaio “Cien años de soledad: realidad total, novela total”, de que Cem anos de solidão é um romance total, noção a partir da qual teoriza que essa obra absorve retrospectivamente os estágios anteriores da realidade fictícia elaborada pelo seu autor, isto é, elementos fictícios das obras anteriores. Todavia, para além dessa teorização, ao se observar a recorrência da solidão como tema nos romances do escritor colombiano, vê-se que Cem anos de solidão não somente é um romance total por retomar retrospectivamente elementos de outras obras, mas, sobretudo, por materializar modus operandi pelos quais a solidão se manifesta em romances que foram escritos inclusive depois. A concepção de poética utilizada para entendermos de que modo ocorre essa regularidade foi teorizada por Tzvetan Todorov (1976) ao compreender por esse termo as estruturas abstratas (literariedade) que tornam a literatura possível. A análise desses três romances se dá por materializarem temática política, partindo da hipótese de que esse âmbito social tematizado é um fenômeno sócio-histórico que, nesse aspecto, estabelece condições também para compreendermos a recorrência da solidão na obra de García Márquez. Assim sendo, a tese de que as obras analisadas fazem parte de uma poética da solidão é dada a ver a partir da operação de alguns procedimentos teórico-metodológicos que permitem observar constâncias de um romance a outro: a princípio, aponta-se para o lugar aonde vai a literatura, considerando os jogos de linguagem na construção do simulacro da solidão; em seguida, analisa-se o modo pelo qual a temática política ganha formato na organização do enredo dos romances; por fim, compreende-se as formações discursivas que regem a disposição dos fatos narrados, que, dessa forma, justificam o modo solitário de suas respectivas fábulas. Para fundamentarmos teoricamente as considerações sobre essa poética da solidão, foram utilizadas as reflexões de Maurice Blanchot (2005, 2011) e Michel Foucault (2000) sobre o movimento realizado pela literatura à medida que põe em jogo seu ser de linguagem e opera um simulacro. Foi utilizada também a noção de “temática” teorizada pelo formalista russo Boris Tomachevsky (2013), posto que sua complexa relação com a “fábula” e o “enredo” permite descrever o projeto literário a partir do que é narrado e seu modo de narrar. Além disso, o conceito de “formação discursiva” teorizado por Michel Foucault (2013b) se mostrou pertinente na compreensão das regras de formação que justificam a organização da narrativa. Portanto, a construção de uma poética da solidão para além de Cem anos de solidão mostra sua coerência a partir do labor com a palavra, da organização da narrativa e pelo pano de fundo discursivo.
Palavras-chave: Solidão; Gabriel García Márquez; Poética; Discurso político; Temática
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