Profanar o arquivo: Zweig – a morte em cena, de Sylvio Back
Publicado: 27/01/2022 - 09:21
Última modificação: 01/02/2022 - 17:37
RESUMO
Esta tese de doutoramento tem por objetivo principal analisar o documentário Zweig: a morte em cena (1995), do cineasta, jornalista e escritor brasileiro Sylvio Back. Isso, com vistas a problematizar em que medida esse retorno cinematográfico (des)atualiza o arquivo desse escritor judeu que, na tentativa de fugir do nazifascismo, se viu, tragicamente, às voltas com o Estado Novo brasileiro em plena Era Vargas. Embora ao somarmos as visitas e o tempo de residência de Stefan Zweig no Brasil obtemos, aproximadamente, apenas um ano de sua vida, é digno de nota que os entrelaçamentos entre esse autor e esse país sul-americano são deveras potentes, basta ver, a título de exemplo, que foi aqui e nesse exíguo espaço-temporal, que ele revisou a sua Autobiografia: o mundo de ontem – memórias de um europeu (1941), escreveu a novela Uma partida de Xadrez (1943), bem como, de maneira inédita em sua carreira literária, tomou esta nação como personagem principal de um livro seu, Brasil um país do futuro (1941), forjando, então, esse epíteto intempestivo que ainda nos assombra mesmo após quase oitenta anos de seu enigmático suicídio, em conjunto com sua segunda esposa, Charlotte Altmann, na cidade de Petrópolis, Rio de Janeiro. Conjuntura, inicialmente, explorada em meados de 1980, década do centenário de nascimento de Stefan Zweig, pelo jornalista e escritor brasileiro Alberto Dines, em sua biografia Morte no paraíso: a tragédia de Stefan Zweig (1981). Não à toa, esse texto é um dos grandes responsáveis não apenas por influenciar Sylvio Back, mas por (re)trazer à tona esse intelectual nesse quinhão de mundo. No tocante ao método, lançamos mãos da análise fílmica, bem como, não raro, recorremos a alguns críticos literários, filósofos e psicanalistas, como Gilles Deleuze, Giorgio Agamben, Jacques Derrida, Sigmund Freud e Walter Benjamin, a fim de engendrar a exegese de alguns dos elementos constitutivos do média-metragem que nos chamaram a atenção durante o debruçamento em tela, como a voz off, a trilha sonora, as imagens de arquivo, o enquadramento e a montagem. Assim, a partir do encontro de nossa leitura dessa película em confronto com esses interlocutores teóricos, e sem perder de vista outras obras fílmicas, defendemos, em suma, a tese de que Sylvio Back, em Zweig: a morte em cena, profana excertos da vida e da obra zweguiana, na medida em que o filme agencia a mise-en-scène documental não de modo a fixar sentidos, mas sim, em coerência com suas demais produções cinematográficas, com o escopo de jogar luz, justamente, nas movências, no diverso, que é próprio do homem e que, por conseguinte, não poderiam passar ao largo de qualquer empreendimento representativo no contemporâneo. Por fim, justificamos esta investigação, uma vez que, ainda que haja fortuna crítica – intertextual e intermidial – acerca de ambos os artistas, os estudos precedentes, ao que nos parece, ainda não se detiveram no exame dessa película em específico e, não suficiente, também em razão da atualidade a toda prova desse intelectual humanista que em meio à tanatopolítica nazifascista ainda reuniu forças hercúleas, a fim de defender em seus livros e palestras uma sociedade mais fraterna.
Palavras-chave: Arquivo. Documentário. Profanação. Stefan Zweig. Sylvio Back.
A defesa da tese será realizada por videoconferência, no endereço eletrônico: https://meet.google.com/fpq-kcze-edw